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sábado, 12 de junho de 2010

Hold On


Levantei naquela manhã com a mesma sensação. Passei as mãos sobre os cabelos e olhei ao redor, vislumbrando o quarto. Ele permanecia da mesma forma que eu havia deixado; o cheiro de cigarro Marlboro reinando no ambiente e as garrafas vazias de bebida, encostadas num canto do cômodo, refletiam a minha vontade de esquecer definitivamente o que ocorria. Levantei e arrisquei alguns passos em direção ao banheiro, desequilibrando-me duas ou três vezes e sendo obrigada a apoiar-me no móvel mais próximo. Abri a porta com dificuldade e entrei. Fitei minha face quadruplicada nos estilhaços do espelho do banheiro. Eu sentia os cacos que se desprenderam ferirem meus pés, e sem me importar, permaneci ali, imóvel.
A idéia de continuar vivendo percorria minha cabeça, apesar vontade de extinguir a minha vida não ter me abandonado. Tão viva era essa vontade que hesitei diversas vezes em apanhar um dos cacos do espelho e continuar a divina obra das linhas horizontais.
‘Divinas linhas, vocês irão me libertar desse peso’ pensei, fitando a iminência do meu trabalho na noite anterior. Abaixei lentamente e recolhi um caco afiado, cortante, mortal. Extasiada, meu olhar refletiu ali e a imagem dos que me acompanhavam surgiu em minha mente. Os momentos de prazer e felicidade, lembranças felizes que caíram sobre mim com um choque de realidade. Soltei o caco e ele se partiu em mais três partes. Cambaleei para trás e encostei na parede, arrastando-me até sentar no chão e encolher-me em posição fetal. As lágrimas não tardaram a chegar.
‘eu só desejo que passe, apenas isso!’ roguei.