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quarta-feira, 28 de abril de 2010

liberdade?



Do ridículo da vida, brotou toda a amargura que carrego. Tantos sonhos desfeitos, palavras não ditas... Foram tantas lagrimas choradas, horas perdidas, tempos gastos com o sofrimento sem sentido. Suas palavras não me machucavam mais, sua faca não me feriu, sua felicidade não me incomodou. Meu desejo intimo esvaeceu num sopro continuo que não me machucou, que não abalou minha calmaria e que não balançou minhas estruturas. Ao que aparentou, elas se firmaram com mais força, incapazes de cair. Aponto em sua direção, pronunciando meu clamor de liberdade.

Finalmente, finalmente, finalmente!”

Olhei pela janela e vi, não chovia mais. Apanhei meu casaco e corri em direção a rua movimentada carregando comigo o sorriso que não aparecia há muito tempo. Talvez fosse um sorriso fingido, um reflexo da frustração que me consumiu e que estava evaporando aos poucos naquele momento. Fui atingida pela baforada de ar morno que sempre habita as ruas depois de uma tempestade. Pisei em algumas poças de água sem dar tanta importância, meu humor estava agradável o suficiente para que eu não me importasse. Era o fim da ditadura; minha vida havia sido devolvida.

Caminhei na direção da praia e logo pude sentir o cheiro da maresia que se misturava ao vento. Tirei meus sapatos encharcados e caminhei na areia molhada.

A brisa sussurrou em meu ouvido; intui que estivesse cantarolando comigo:

finalmente, finalmente a liberdade!”

sábado, 24 de abril de 2010

reflita!


Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver.

[Charles Chaplin]

terça-feira, 20 de abril de 2010

show me.


O salão estava repleto de corpos que se moviam conforme a batida da música lenta. Com passos vagarosos, eu caminhei em direção a multidão dançante buscando reconhecer a face das pessoas que mantinham um constante sorriso, seus rostos cobertos com luxuosas máscaras de baile. Ali que eu me encontrava, num majestoso baile de mascaras, cuja decoração assemelhava-se a um palácio de gelo. Vestidos decorados, cheios de anáguas. Mulheres bem vestidas transbordavam perfeição. Homens cortejavam-nas como pomposos pavões.
Adentrei mais ainda no baile, minhas mãos tremulas segurando a mascara que eu não estava disposta a colocar. Cada passo que eu dava, olhares de indignação perseguiam-me. Tentei ignorar os murmúrios que se seguiram minha atitude, a música havia parado e todos me encaravam. Fui fechada por um círculo humano.
Encarei aquela multidão; sentindo meu coração pulsar dentro do meu peito com uma força inexplicável. Segurei a mascara e depositei-a no meu rosto. A música voltou a bater freneticamente e, como numa hipnose, todos voltaram a dançar com a exceção de mim. Continuei ali, com minha face escondida, fingindo que estava tudo bem para os olhares vazios de todas aquelas caras ocultas.

sábado, 17 de abril de 2010

Break this bittersweet spell.


As nuvens pesadas que pairavam no céu escuro daquela noite sombria traziam o presságio da morte. Era de se esperar que aquelas palavras fossem me afetar tanto, ferir minha alma impiedosamente como ninguém nunca havia feito. Àquela altura, a opção mais viável para cessar toda dor que me habitava parecia cada vez mais convidativa. Eu ouvia o vento soprar em meu ouvido, cochichar algo enquanto eu tentava decodificá-lo.

A chuva não tardou a cair e os grossos pingos encharcarem meu corpo. Meus cabelos colavam em minha face.

Eu tremia compulsivamente, meu corpo urrava para ser aquecido mais eu o ignorava. O frio vem do psicológico, assim como a dor física; dor esta que não era mais capaz de substituir minha agonia interior.

Pensamentos desconexos, teorias absurdas, eu buscava entender... Tentei inutilmente deduzir o que eles procuravam em mim. Não encontrei. Minha utilidade? Nenhuma. Minhas vontades? Eu não sabia. Quem eu era? Sinceramente, nem conseguia responder para mim mesma.

Sentindo os pingos que ainda atingiam-me irem se multiplicando e munida de uma coragem que surgiu devido ao acaso, levantei e fui até a beirada do prédio. Fitei o chão e ele parecia chamar meu nome num sussurro lento e persuasivo.

Num sopro do vento, num mísero segundo, senti meu corpo pender e eu já sentia a paz de finalmente extinguir minha dor se esvairir. Ia ser rápido e letal. Prático e simples.

Mas algo me interrompeu. Senti um par de braços segurarem minha cintura e me puxarem. Fitei o olhar dele, assustado enquanto ela, um pouco distante de nós dois, corria em minha direção com os olhos vermelhos, transbordando aflição.

Deixei que os braços dela me envolvessem, num abraço reconfortante. Ele, que nos observava, amparou meu corpo tenso e cansado. As lágrimas escorreram pela minha face e se misturaram com a água da chuva.

“me perdoem!” pronunciei baixo.

“vai ficar tudo bem!” eles disseram ao mesmo tempo.

sábado, 10 de abril de 2010

Please, don't leave me (parte 4)


Estava deitada no amplo sofá; a única luz vinha da TV ligada. Lá fora, um céu negro e sem nuvens, pontilhado de estrelas, enfeitiçavam qualquer um; com a exceção de mim, cujo vazio era tão grande que não me permitia contemplar tal magnífica beleza.
“A bolsa de valores despencou mais uma vez e...” tentei me concentrar na reportagem, mas meus pensamentos foram, mais uma vez, direcionados a ele. Sua pele morena complementava os cabelos castanhos e os olhos negros como o céu daquela noite. Seu cheiro vicioso parecia ainda estar entranhado na minha pele e sua voz sedosa ecoava frequentemente com as seguintes palavras: ’eu te amo’.
Não tive como fugir; as lagrimas preencheram meus olhos mais uma vez e umedeceram minha face rapidamente. Encolhi-me, como uma criança que sente dor, quando as recordações que eu tanto almejava esquecer voltavam para me lembrar o quanto doía à falta que ele me fazia.

Suas mãos firmes seguraram meus quadris eu me deixei levar, totalmente persuadida pela idéia insana de estar com ele. ‘eu te amo’ ele sussurrou em meu ouvido.

Mais algumas lágrimas rolaram. Levantei decidida a mudar de canal e mandar para longe a imagem dele que refletia no meu intimo. Clipe de uma banda desconhecida, canal da polishop, noticiários, novelas, reality show... nada seria capaz de desviar minha atenção. A culpa me tomava; milhares de mensagens e ligações dele que fui obrigada a ignorar.

No calor dos braços dele, eu adormeci totalmente entorpecida pela proteção que eles me ofereciam. Naquele momento, eu acreditei não ser mais capaz de deixá-lo, de abandoná-lo. Acreditei não ser mais capaz de viver em outro lugar que não fosse ao lado dele. ‘eu te amo’ ele sussurrou mais uma vez em meu ouvido antes de eu me entregar ao melhor sono da minha vida.

Eu necessitava tê-lo, amá-lo. Sentei no chão frio e abracei meus joelhos, escondendo meu rosto enquanto eu procurava fugir das minhas próprias lembranças. Perguntei-me se ele estaria bem. Se estaria feliz ou tão ferido quanto eu nas atuais circunstâncias.
A campainha soou, fazendo-me estremecer com o susto. Levantei-me, tentando secar a dor que ainda transbordava pelos meus olhos e fui em direção a porta. Acreditei que no momento em que fitei seu rosto novamente, estampando o sorriso tímido e triste de quem pede perdão, nunca mais fosse capaz de respirar novamente. Meu coração pulsou e eu mergulhei na dúvida se era de alegria ou frustração. Largando a mala no chão, ele fitou-me longamente parecendo querer quebrar o silêncio que pairava sobre nós, mas não sabendo exatamente como.
Sem agüentar mais, pronunciei mudamente ‘me perdoe’. Ele, com os olhos levemente marejados, assentiu e sem perder tempo, envolveu meu corpo com seus braços determinados e selou meus lábios aos seus.
Era indescritível como a necessidade e toda melancolia se tornaram meras lembranças ruins, esquecidas para sempre em algum lugar dentro de mim. A felicidade me atingiu com um sopro. Eu o tinha novamente, envolvendo meu corpo e minha mente. Preenchendo minha vida e minha alma. Eu não precisava de mais nada, naquele momento tudo bastava.

Fim.

[música: Farewell - Apocalyptica]

Nothing Else Matters

"Tão próximo, não importa o quanto a distante
Não poderia estar mais (próximo) do coração
Para sempre acreditarei em quem nós somos
E nada mais importa

Nunca me abri deste jeito
A vida é nossa vivemos como quisermos
Essas palavras eu apenas digo...
E nada mais importa

Confiança eu procurei e encontrei em você
E a cada dia algo novo
Mente aberta para uma visão diferente
E nada mais importa

Nunca me importei com o que eles fazem
Nunca me importei com o que eles sabem
- e eu sei

Nunca me importei com o que eles falam
Nunca me importei com o jogo que eles jogam
Nunca me importei com o que eles fazem
Nunca me importei com o que eles sabem
- mas eu sei"

[nothing else matters - Apocalyptica]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Please, don't leave me (Parte 3)


Loucura; talvez esse fosse o sentimento que me possuía.

Duas semanas haviam se passado e minha espera por alguma melhora não tinha fim. O que antes me satisfazia ia perdendo a graça; inúmeras vezes eu caí nos braços de outras mulheres, nenhuma se comparava a ela.

Busquei refúgio nas altas doses de álcool, usufruindo da sensação que ele causava; sensação essa que moderava a saudade avassaladora que eu sentia dela.

Louco; foi assim que me chamaram quando, numa tarde de sexta feira, movido por uma idéia repentina, rumei de volta pra casa.

Abri a porta do meu apartamento e fui recebido pelo silêncio sepulcral que pairava no ar. Joguei minhas chaves em cima do sofá e caminhei até meu quarto. O cômodo transpirava solidão. Encarei a momentaneamente a cama vazia, os lençóis meticulosamente esticados, e desejei mais do que nunca vê-la deitada ali novamente. Ao que me parecia, seu cheiro nunca havia abandonado aquele lugar; permanecia ali, vivo como cada lembrança que eu mantinha dela.

Apanhei uma pequena mala de viagem e joguei algumas peças de roupa dentro dela, além de itens de higiene indispensáveis. Reuni todo o dinheiro que eu havia juntado durante meses e peguei o celular pra buscar informações com as que deleitavam de sua companhia.

Ouvi a voz aguda de uma de suas amigas atender e as palavras de apelo fugirem da minha boca. Eu necessitava apenas de um endereço. Não demorei a conseguir.

Ganhei o mundo; eu poderia percorrer milhas... Quando eu a encontrasse, tudo compensaria.