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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quando Assim


A escuridão que foi instalada em meu quarto denunciou que já anoitecera. Nem havia me dado conta do tempo em que fiquei deitada ali, fitando o teto, imersa em pensamentos desconexos. Me sentia confusa naquele momento, amaldiçoando meu coração por mais uma peça que ele resolvera pregar em mim.

A foto dele ainda jazia sobre meu criado mudo, naquela moldura que eu havia comprado especialmente para abrigar aquela lembrança. Parecia-me o fim de uma bela história. Parecia que eu estava tentando afogar um sentimento que ainda existia no meu intimo.

Afogá-lo sem necessidade alguma.

Estranhamente, a necessidade de tê-lo ao meu lado não exigia mais delongas. A verdade é que eu o amava. O amava de uma forma intensa e pura. Minha alma entregue nas mãos dele, torcendo para que ele não a destruísse. O resultado disso seria o meu fim. O fim de planos, de expectativas, de segredos e confissões.

Então, por que tentar afogar algo que sustenta? Que me dá força para sempre seguir em frente? A escuridão sussurrou para mim que isso não duraria muito. As dúvidas e confusões vêm e vão, mas a certeza de se amar permanece sempre. Por mais que tentem ocultá-la.

Escutei as pedrinhas serem atiradas e baterem em minha janela. Era uma cena clichê, daquelas que a gente costuma presenciar nos filmes de sessão da tarde, mas aquele acontecimento me tirava o fôlego. E ao vê-lo aguardando em meu jardim, o sorriso doce decorando seu semblante apaixonado, as dúvidas eram esvaecidas de mim. Eu o tinha ao meu lado e nada mais importava.