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sábado, 20 de agosto de 2011

Le Suicidal Feeling - Parte 1



 Naquela manhã, acordei assombrada. Meu coração parecia pesar uma tonelada. O suor frio, a respiração entrecortada, arfante. Sentei na cama ainda tendo a clara visão da imagem dela, confundindo e consumindo meus pensamentos, sentada em minha frente. Entre um abraço e outro, seus lábios tocavam os meus. Ainda tinha a plena certeza de que podia sentir o gosto dela em minha boca e o seu calor em minha pele.

Joguei para o lado a onda de cobertores que me envolviam e cambaleei em direção ao banheiro. Entre um passo e outro, espreguiçava meu corpo e afagava meu cabelo. Questionava-me sobre a aparição de sua figura em meus sonhos.  Não me sentia normal.

Despi minha camisola de seda preta e liguei as torneiras de água quente do chuveiro. Evitei encarar meu próprio reflexo no banheiro. Tive receio de encontrar estampado no meu olhar o que eu receava sentir. Uma pilha de toalhas jazia sobre a estante. Apanhei algumas, coloquei-as num canto e me enfiei embaixo da água corrente, pretendendo ficar ali por horas.

Meu telefone bipou pela primeira vez.

Ensaboei meu corpo lentamente, sentindo o cheiro do sabonete liquido impregnar meu corpo. Enxagüei meu corpo, sentindo a espuma escorrer e a água levá-la embora. Apanhei uma das toalhas e enrolei-a em mim, tateando outra para secar meus cabelos.

Meu telefone bipou pela segunda vez.

Saiu da secretária eletrônica a voz dela. Meu coração parecia se recusar a voltar a bater e em um sobressalto corri para atendê-lo. “Você está atrasada e eu preciso de você aqui! Coisa muito urgente” Ela falou. Com a voz fraca, respondi: “Tudo bem, já estou indo!” Antes de desligar, ouvi ela dizer: “Vem logo!”. Ainda tentando recuperar a sanidade mental, rumei para o quarto. Abri meu closet em busca de alguma roupa para vestir. A escolha foi rápida e totalmente imprecisa.

Quando sai, o sol já despejava raios de luz na rua quase deserta, formando uma grinalda de cobre liquido. Enquanto dirigia, receava encarar o olhar dela. Tentava buscar forças no meu intimo para encontrá-la. Deixei-me perder em meus pensamentos, odiando a mim mesma por não conseguir controlá-lo. Já tinha esquecido da sensação que a insegurança produzia em mim.

Estacionei o carro e apanhei minha bolsa no banco de trás. Pude jurar que ouvi alguns dos funcionários me desejarem bom dia, mas não lembro de ter respondido. Parecia estar incapaz de articular alguma palavra. “Finalmente, né?” Eu ainda fitava meus próprios pés quando ouvi sua voz clara e rouca. Num som totalmente audível para que eu não pudesse fingir não ter ouvido.

Olhei para a entrada. Ela me esperava ali.