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domingo, 14 de outubro de 2012

Palácio de Gelo


O palácio de gelo estava vazio. Suas paredes cinzentas pareciam mais sólidas do que nunca. Cristais de gelo pendiam do teto. Olhei em volta e, de repente, constatei a figura que dançava sozinha. O vestido fluído balançava de um lado para o outro conforme seus passos a guiavam.

Olá? – Gritei. Minha voz ecoou pelo lugar e os cristais tilintaram num som trouxe um presságio de morte. – Sabe como eu posso sair daqui? – Tentei novamente e pude ouvir o eco devolver minha voz aguda. A garota parara de dançar. Aproximei-me devagar e constatei o quanto seu cabelo era curto. Os ombros a mostra deixavam claro seu estado de magreza. Ela se virou lentamente e me fitou por trás de sua máscara dourada. Um silêncio sepulcral se instalou sobre nós, quebrado apenas pelo tilintar dos cristais no teto.

- Você sabe como. – Ela disse finalmente, sua voz me soando familiar. Voltara a se balançar no mesmo lugar. As mãos desajeitadas traçavam círculos em volta de si. Me aproximei mais ainda daquela figura esguia e segurei em uma de suas mãos.

- Eu realmente preciso sair daqui. – implorei sentindo seus dedos finos se entrelaçarem aos meus. Senti sua mão gelada me passar uma estranha corrente de energia. A garota se afastou de mim. Correu na ponta dos pés e cochichou com as paredes. Emergira dali mais uma garota. E outra. E mais outra. Olhei em volta e já totalizavam sete. Todas rumaram até mim, cada uma usando uma máscara diferente. A atitude seguinte me pareceu estranha. Fui laçada por um abraço coletivo que não durou muito.

A garota inicial, com sua máscara dourada, destacou-se entre elas e se dirigiu até mim. Sua voz suave me envolveu como uma bela canção. “Só uma poderá sair daqui”. Apontou para si, para mim e para as outras garotas que agora dançavam. Respondi com toda a certeza que seria eu. Ela me fitou longamente. “Tem certeza? Porque se for você a que irá sair daqui, nada mudará!” Confusa, encarei-a por longos minutos. Então, vi o vislumbre do meu próprio sorriso brotar em seus lábios e a compreensão me golpeou. Sabia que, se eu tivesse de ficar ali, deixaria de existir. Qual escolha eu deveria tomar?