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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Courtesan - PARTE 7 (final)


- Madame Fournier, ele a aguarda no costumeiro quarto.
Depois de anos, eu aprendi que todos nós devemos aprender a lidar com determinadas mudanças. Após tantas reviravoltas, tomei ciência de que não se deve lutar contra elas, mas sim, aprender a se adaptar a tudo que elas lhe oferece. Não me demorei muito, rendi-me apenas a borrifar um pouco do melhor perfume que me foi dado e ir ao seu encontro. O Le Chat Noir parecia não ser mais o mesmo, os rostos haviam mudado e minha humilde presença não era mais humilde. Ao rondar pelos compridos corredores dali, as cortesãs passaram a abrir espaço para a minha passagem e mantinham-se cabisbaixas em sinal do mais profundo respeito.

Foram tempos difíceis e o Le Chat Noir foi entregue ao mais profundo luto. A pedido do próprio Dom Pietro, seu velório foi feito nos salões do cabaré. Seu corpo jazia no centro do estabelecimento e seu corpo era regado pelas garotas que choravam o ultimo adeus antes do enterro. Poupei-me do sofrimento de ter que ver aquele cenário fúnebre e permaneci no mais profundo silêncio, escondida na penumbra do salão. Senti a dor da perda se instalar em meu peito com uma rapidez quase mortal e me vi incapaz de suportá-la. Não fui capaz de evitar aquelas tão conhecidas lágrimas, deixei-as assumir o controle dos meus sentimentos e apoderar-se do meu ser.
Submergi nas minhas próprias lembranças, recordando momentos que passei ao lado de Dom Pietro e de tudo que ele foi capaz de me instruir. Arrisquei alguns sorrisos quando as lembranças eram boas, um sorriso sempre acompanhado com o choro da perda. A passos lentos, René rumou ao meu encontro e me honrou com sua companhia.. Segurava um lenço de ceda e o ofereceu a mim. Aceitei-o e sequei as lágrimas que insistiam em continuar caindo.
- Sinto muito. – a voz de René saiu rala e chorosa. Um sussurro quase inaudível.
- Todas nós sentimos muito. – arrisquei.
- Vai atender ao pedido dele? – René fitou-me longamente e aguardou a resposta ansiosa. Quebrei a ansiedade dela e respondi:
- Sim – abaixei a cabeça e sequei mais algumas lágrimas. – Eu vou assumir o Le Chat Noir.

O costumeiro quarto estava escuro. Um cigarro aceso descansava no cinzeiro e Alaster me aguardava sentado na cama. Suas feições haviam mudado um pouco, mas o tempo não conseguiu devorar a tamanha beleza do seu rosto.
- Madame Fournier – Alaster Chevalier ergueu-se e me ofereceu uma reverência.
- Alaster, você não precisa me tratar com tamanha cordialidade – sorri e notei o sorriso de canto que ele esboçava. – sou dona do Le Chat Noir, porém continuo sendo sua Juliete.
Ele me lançou um olhar derrotado e despiu o paletó enquanto eu deitava na cama e o aguardava calmamente. Foram tantos momentos esplêndidos que tive ao lado daquele homem que eu era incapaz de negar o quanto o amava. O quanto necessitava dele.
Confesso o quão duro foi vê-lo naquela cerimônia de casamento e permanecer no mais profundo silêncio. Apesar dos fatos, nada pareceu ter mudado tanto. Alaster continuava freqüentando o Le Chat Noir todas as noites, não se incomodava com os costumeiros comentários da alta sociedade. As vezes até parecia gostar da ideia.
Alaster me resgatou das lembranças que me possuíam e beijou-me os lábios. As mãos hábeis continuavam as mesmas, incendiavam minha pele com o mais simplório toque. Sem cerimônias, seu corpo se depositou sobre o meu e seu próximo ato foi me deixar sem nenhuma vestimenta.
A cada noite que passávamos juntos, eu lembrava que ele não era inteiramente meu. Pelo menos, Alaster não era meu perante toda a sociedade francesa. Porém, a sociedade francesa não era apta a compreender que não são simples votos ou falsos juramentos que fazem alguém pertencer a outro. Não, o amor vai além disso. Alaster poderia estar casado com outra, mas no fundo eu sabia que ele era meu porque seu coração me pertencia. E, bom, a reles jovem burguesa que se tornou prostituta e que agora dominava o império do Le Chat Noir. Eu, Juliete, Madame Fournier... pertencia inteiramente a ele. Só isso e mais nada.



nota da autora: Peço desculpas pela demora para atualizar o Armas Radioativas, meu novo blog anda tomando o dobro do meu tempo e me faltou um pouco de inspiração para finalizar Courtesan. Queria agradecer a ele por ter me dado tanta inspiração e a você, que acompanhou Courtesan até o fim.