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domingo, 31 de outubro de 2010

Courtesan - PARTE 3

Eu tinha quinze anos na época.

Eu era uma garota burguesa, com uma mente repleta de sonhos esperando para serem realizados. Eu era um coração que pulsava com ideais. E não custou-me chegar a conclusão que os ideais de minha família não se assemelhavam aos meus. Foi aos quinze anos que meu pai decidiu que, se eu não aceitava as decisões impostas a mim, não viveria mais sobre o mesmo teto que ele. As ruas francesas me receberam de braços abertos.
Foram meses difíceis. Me perguntei se teria valido mais a pena ter aceitado aquele casamento arranjado do que vagar sem rumo pelos becos parisienses... Onde a névoa fria das noites congelava minhas entranhas perdidas. Eu adormecia nas calçadas úmidas com o intuito de nunca mais despertar. Refugiava-me nos sonhos que ainda me restavam.

Certa tarde, Pietro Carter cruzou meu caminho. Literalmente declarando.

Naquela tarde, apaguei após ser atingida pelo automóvel que costumava transportá-lo. Despertei algumas horas depois – precisamente, oito horas depois – acreditando estar no céu. A figura simpática de Dom Pietro me fitou. Em meio à barba meticulosamente feita, distingui um sorriso de boas vindas. Le Chat Noir  me acolheu e ali permaneci.



Alaster Chevalier se tornou um árduo freqüentador das noites oferecidas pelo Le Chat Noir. Negava-se experimentar outras cortesãs – algumas com habilidades maiores que as minhas – e exigia minha presença no quarto sete após o término da apresentação de dança, oferecendo quantias generosas quando eu me recusava a comparecer.
Numa noite, desatei a chorar enquanto as outras garotas fitavam-me sem entender. René decifrou meu olhar aflito e envolveu-me num abraço. Meu rosto foi sutilmente acomodado em seus seios fartos. Perguntei: Por que eu?

No Domingo, religiosamente, ele compareceu. Sentava-se nas mesas de canto do salão e contemplava sutilmente o movimento das saias que voavam à dança enquanto outros cavalheiros recitavam obscenidades para nós. Assim que a dança terminou, não me demorei no camarim. Tirei o arranjo do cabelo e rumei pelos corredores escuros.
Ele já me aguardava no quarto quando entrei. Se postava num canto do cômodo, acomodado numa poltrona e imerso na penumbra.
- Tenho algo pra você. – ele falou, erguendo-se e esboçando um sorriso leve.
- O que? – perguntei, sentindo a curiosidade começar a fervilhar meu sangue.
Sua mão apontou para uma caixa preta, coberta por veludo, pousada sobre a cama. Tomei a caixa em minhas mãos e fitei-o enquanto ele sentava-se ao meu lado. Seu olhar me incentivou e, quando abri a caixa, mal pude acreditar no que vi. A pulseira de safiras reluziu com a luz tênue do quarto. Mal consegui disfarçar minha expressão surpresa. Alaster pegou a pulseira da caixa e eu lhe ofereci o pulso. Colocada ali, contemplei-a.

A mais bela jóia que já havia visto.

Nada mais foi dito por um longo tempo. Rendi-me apenas a sentir suas mãos explorarem meu corpo. Elas me faziam querer explodir. Aquela costumeira sensação de satisfação me fez sorrir. E, ao que parecia, a sensação também o visitava. Eu o beijava intensamente enquanto Alaster ocupava-se em arrancar-me às vestes e apalpar minhas nádegas. Um pedido dele era quase um ultimato para mim agora; assim postei-me sobre ele e realizei seu desejo. Numa total sincronia, senti a sensação de extremo prazer arrepiar-me por completo e me causar constantes espasmos. Até a exaustão nos atingir.
Aninhei me junto ao seu corpo enquanto seus lábios depositavam em meu pescoço beijos persuasivos. Seus dedos passeavam pela linha da minha coluna. Aspirei seu perfume como se aquele fosse o ultimo momento. Apreciávamos a presença um do outro.
- Eu te amo. - sua confissão me bombardeu.

Silêncio.

- Eu também. – admiti derrotada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Courtesan - PARTE 2


Lábios vermelho sangue. Vestido com rendas e fitas. Uma tiara que decorava os cachos. Um instinto que complementava. Não se desprezava a necessidade dele. O instinto.

Nicole dava os últimos retoques em sua maquiagem bem elaborada enquanto Lenora me auxiliava com o corselet; puxava e apertava, anulando minhas chances de respirar e diminuindo dez centímetros da minha silhueta. Pietro já anunciava aos freqüentadores do Le Chat Noir que nos apresentaríamos dentre alguns minutos. Muitas das cortesãs já se encaminhavam para o palco. Ergui-me lentamente, sentindo a compressão de meus pulmões. Ajeitei meus seios dentro do vestido magenta e acompanhei a massa de garotas que andavam apressadas, já ouvindo os urros excitados dos cavalheiros.
A música foi iniciada e eu respirei fundo, meu coração golpeava meu peito como se desejasse pular fora dali. Intimamente, eu sabiao que temia. Hesitei momentaneamente antes de entrar no palco, porém os segundos não estavam a meu favor. As cortinas se abriram e René agarrou minha cintura conforme a coreografia. Imediatamente, segurei as anáguas do vestido e entrei numa fila perfeitamente alinhada.
Em meio a giros e saltos, jogadas de pernas e de saias... Em meio à batida lenta e rápida da melodia persuasiva e aos gritos e aplausos dos cavalheiros empolgados, distingui aquele olhar. Meu corpo reagiu com um espasmo. Ele se encontrava numa das primeiras mesas perto do palco, suas mãos se encontravam numa sincronia perfeita em palmas. Precisas e calmas. Um Martini descansava em sua mesa. Outras cortesãs passavam ao seu lado e acariciavam seu peito; fatos que não abalava sua fleuma nem desviava sua atenção. Teria agradecido se ele tivesse parado de inflamar minha pele com os olhos. A íris em chamas. Embalei-me até o fim, ignorando sua presença ali até a batida final. Ele se ergueu e sua voz se misturou aos gritos dos outros. Não esperei os agradecimentos.

- Eu já disse que não vou! – Enfatizei meu desejo.
Uma multidão de garotas estava reunida na porta do quarto principal. Assistiam a discussão como expectadoras fiéis.
- Juliete – Pietro segurou meu rosto com as duas mãos e penetrou-me com sua íris azul que fazia doer à consciência. – Você não está entendendo! Ele-está-pagando-o-dobro!
- Dom Pietro, sei que isso está acima de sua compreensão – falei a beira de um ataque de nervos. – Mas use o bom senso uma vez na sua vida e ignore os apelos dos seus bolsos... Eu não posso atender o Sr. Chevalier!
- Isso não depende mais das suas escolhas, Juliete! – Pietro largou minha face como se, momentaneamente, estivesse eletrizada. – Ele lhe aguarda no quarto sete.
Um nó foi atado em minha garganta e Natalie fitou-me longamente. Lenora pronunciou um “sinto muito!” mudamente. Levantei, sentindo o choro amargar a boca e passei pelas garotas que me acompanharam com uma atenção incomoda. Algumas delas disseram: - Boa sorte!

Anunciei minha presença com três batidas na porta de carvalho e abri. Um cheiro de cigarro pairava no ar, misturados com um perfume persuasivo que ardia os pulmões. Logo notei sua presença. Parado na janela, ele contemplava a paisagem da noite Francesa. Fechei a porta, que estalou ao ser trancada, e sua atenção se voltou para mim. Meus pés criaram raiz no carpete verde musgo e me impossibilitaram de dar algum passo. Minha voz foi engolida pela ansiedade.
Chevalier sentou na beirada da cama e estendeu-me à mão. Uma força maior me fez caminhar em sua direção até que suas mãos pudessem tocar minha cintura.
- Fico feliz que esteja aqui. – sua voz sedosa atingiu-me com a confissão.
- Sr. Chevalier... – comecei.
- Alaster. – corrigiu-me. Cada poro do meu corpo reagiu ao seu tom de voz. Suas mãos hábeis desfaziam os nós do corselet apertado e, pela primeira vez na noite, senti o oxigênio intoxicar-me internamente. Acariciei seu cabelo displicentemente, sentindo seus toques precisos e notando a correspondência do meu corpo a todos eles. A resistência não poderia mais existir naquele momento. Enquanto ele despia minhas saias, rendi-me a sentar em seu colo e beijar-lhe os lábios. Suas mãos afagavam meus cabelos e exploravam minhas costas.
Em meio aos devaneios da madrugada que caminhava preguiçosa, pude sentir sua boca explorar as restrições do meu corpo. À medida que isso acontecia, eu devolvia-lhe o agrado conforme o desejo aumentava. Quando nossos corpos se alinharam, ele me fez subir do inferno ao céu em uma só estocada. A sincronia do movimento perdurou até eu sentir a sensação formigar minha pele. Deixei escapar uma rajada de ar retida em meus pulmões e deitei-me ao seu lado. Encarei seu olhar silencioso que me dizia algo. De certa maneira, eu consegui decodificá-lo. Só não desejava acreditar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Courtesan - PARTE 1



O sol se espreguiçava no horizonte quando acordei. Banhava o quarto com uma claridade que fazia doer os olhos. Tateei o velho relógio e consultei-o. Cinco e meia. Havia amanhecido tão rápido que eu nem havia me dado conta. Meu corpo protestava de cansaço e exigia permanecer ali para compensar o sono acumulado de noites seguidas. Ignorei-o. Ao meu lado, um corpo suspirava enquanto dormia. Virei-me o suficiente para ver quem era. O rapaz nu jazia por entre as cobertas brancas que cobriam-lhe as partes intimas. O peito despido subia e descia ao seu respirar. Recordei suas feições assim que havia entrado ali. Poderia passar o resto do dia contemplando seu sono calmo.
Vencendo o cansaço, lancei minhas pernas para fora da cama bagunçada e levantei lentamente, recolhendo minhas vestes que, tão meticulosamente, ele havia tirado na noite passada. Vesti-as calmamente, colocando todas as saias e vestidos, apertando por fim o corselet que moldava minha cintura. Abri a porta com cuidado, almejando não despertá-lo e sai do quarto. Rendi-me a caminhar silenciosamente pelo corredor de portas fechadas, ignorando gemidos, suspiros e roncos dados por trás delas. Enquanto caminhava, recuperei vestígios de lembranças da noite anterior e esbocei um sorriso.
- Vejo a satisfação brilhando em seu olhar, Juliete. – aquela voz. Fria e aguda me causava uma ânsia quase insuportável. Seu tom carregado de desprezo chegava a doer na alma. Virei-me para encarar o verde frio dos olhos de Daphné, enquanto um sorriso cínico brincava no canto dos lábios vermelhos e desenhados dela.
- Não encontro motivos para sentir satisfação, Daph! – respondi. – O simples fato do filho do Duque ter optado por mim não é capaz de me fazer sentir orgulho. Eu não sou você! – Desprezei sua resposta e rumei para o quarto que costumava abrigar todas nós quando não estávamos acompanhadas. Ergui as longas saias para permitir-me subir a escadaria e bati na porta. Pude ouvir as vozes de René e Nicole debatendo sobre algo e, pausadamente, pronunciarem-se em uníssono: - pode entrar!
Abri a porta e esgueirei-me para dentro do quarto, sendo surpreendida pelos gritos agudos das garotas que me puxaram assim que fechei a porta. Natalie, Lenora e Isabele, que antes se distraiam com alguns chapéus de pena, se juntaram ao conjunto de outras delas que corriam em minha direção. René obrigou-me a sentar numa das poltronas do quarto enquanto Nicole dizia: - Não nos esconda nenhum detalhe!
- Não tenho nada a declarar! – Pronunciei-me, divertindo-me com a curiosidade delas.
- Claro que tem! – Lenora disse.
- Conte-nos tudo! – Isabele completou.
Sorri involuntariamente e aquela cachoeira de saias e penas se acomodaram no chão do quarto coberto pelo carpete vermelho sangue enquanto eu relatava os acontecimentos da noite anterior. Ouviam-se suspiros, risadas e gritinhos histéricos partidos delas até a conclusão do relato. Um silêncio foi implantado no cômodo enquanto todas elas fitavam-me com curiosidade.
- ele irá retornar! – Natalie afirmou convicta de si.
- descarto esta possilidade. – levantei-me e despi alguma das saias, deitando-me na cama que ocupava ali. Sabia que, de uma forma ou de outra, eu desejava no meu intimo que ele realmente retornasse. Naquele momento, eu estava quebrando as regras que impuseram a mim ali.
- ele irá retornar! – Nicole cochichou no meu ouvido antes de deitar-se na cama ao lado.
Encarei-a longamente e ela lançou-me um ultimo sorriso antes de ocupar-se com um livro de contos eróticos. Tentei não pensar naquela possibilidade.

Na noite seguinte, a profecia delas se cumpriu. Ele retornou.

domingo, 10 de outubro de 2010

Snow


Tudo era branco. Branco sujo. Branco Gelo. Branco neve.

Neve.

Fazia um bom tempo que não nevava. Dois invernos... pode-se assim dizer. Aquele manto branco, que havia se ausentado por tanto tempo, agora estava em toda parte. Cobrindo telhados, gramados, casas e o que mais viesse à cabeça. Naquela tarde, eu tinha finalmente tomado uma decisão e, naquele exato momento, eu rumava pensativa, tentando organizar minha cabeça confusa.
 A rua deserta tinha um cheiro de silêncio que se sentia no estômago. Na certa, a população castigada pela nevasca de três dias jaziam no conforto de suas residências. Mas eu não. Eu já não suportava mais ser engolida pela solidão da minha casa. Eu senti a necessidade de provar o frio rigoroso de novembro que fazia doer os ossos. Consultei meu relógio de pulso; os ponteiros pareciam atropelar o tempo. E o tempo... Este não parecia estar com pressa em passar. Ele bocejava.
Aos tropeços, continuei caminhando, sentindo meus pés afundarem naquele glacê sem sabor a cada passo que eu dava. Tentei preparar um pequeno discurso, eu não fazia ideia do que falar. Pedir desculpas talvez? Encarei o céu cinzento e senti culpa. Não havia sol. Não havia nuvens. Apenas o cinza sepulcral. Combinava com o branco. Pareci estar enterrada num filme antigo.
Ajeitei o cachecol no pescoço e escondi minhas mãos dentro dos bolsos da jaqueta. Era o refúgio quente que elas necessitavam. As árvores despidas pareciam mirar cada um dos meus atos. Seria satisfatório se elas segurassem minha mão e me levassem até lá.

Lá.

Não ia lá desde o ocorrido. Não tive forças pra voltar. Deixei os as horas engolirem os minutos e os dias devorarem as horas. E dessa forma, uma semana se passou.
Virei à esquerda, já conhecendo o caminho de uma forma sublime. Conhecia tanto o caminho quanto desconhecia a mim mesma. Ali já não havia neve. Porém, a estrada estava coberta de água derretida e pedrinhas de sal rangiam ao pisar. Parei. Contemplei longamente a casa, relembrando os momentos que vivenciei ali. Ri intimamente quando notei que ele havia retirado a neve da passagem até a porta. Deveria ter feito o mesmo. Teria me poupado o trabalho de pular a janela pra sair de casa.
Um último suspiro escapou e, assim decidida, caminhei até a porta. Meu dedo encontrou a campainha e o som ecoou pela casa inteira, estremecendo e arrepiando cada pêlo do meu corpo. 

Nada.

Ninguém.

Estiquei meu braço novamente, almejando tocar mais uma vez. Detive-me no meio do ato. Uma fresta da porta foi aberta e os olhos dele espreitaram minha figura constrangida. Provida de arrependimento. Não havia esquecido a magnitude do olhar castanho-latino dele. Apaixonante. Inesquecível. Fui recebida com uma expressão de surpresa se materializou no rosto dele ao me fitar. Atendi ao apelo do meu pulmão e tomei um pouco de ar com o intuito de dizer algo. Não tive tempo. Ele fechou a porta antes que qualquer palavra pudesse escapar dos meus lábios. Suspirei. Meu coração protestou. Eu sabia que isso iria acontecer. A errada era eu. Mas ali estava eu, pisando no meu orgulho e despertando a humildade adormecida em mim. Será que eu tinha sido tão estúpida a ponto dele nem querer estar na minha presença?
Engoli em seco e dei meia volta pra retornar à minha casa. O céu derramava flocos de neve sobre a cidade. O ar estava tão gélido de cortar a alma. Interrompi o primeiro passo ao ouvir um rangido, denunciando que a porta havia sido aberta. Contemplei o corpo parado na entrada da casa. O cabelo bagunçado, a camiseta do Ramones, o sorriso tímido que exibia-lhe as covinhas.

Sorri.

Sorri como não havia feito há uma semana.

Caminhei até ele e encarei seu olhar que despejava calmaria. Parecia querer ler meus pensamentos. Isso conflitava-me. Tomei fôlego para falar algo. Não sabia o quê, mas eu precisava falar. Seu dedo interrompeu-me. Foram segundos de silêncio que aparentaram ser milênios. Por fim, ele sorriu e pronunciou-se:
- Senti sua falta!


sábado, 2 de outubro de 2010

amar?


Não era a primeira vez, já havia me adaptado aquele acontecimento. Deparei-me, mas uma vez, fitando o horizonte e pensando em você. Desde o começo, perguntei a mim mesma se valeria a pena encarar tudo sem medo. Me faltava lágrimas para esboçar qualquer tipo de angustia presa, já havia chorado o suficiente por uma vida inteira. Sempre foi um péssimo hábito. Eu regava lembranças de um passado que se fazia presente em todos os momentos. E chorava. Chorava como se todas as recordações tivessem acabado de ocorrer, mas que, porém, o tempo já tinha o matado. Depois eu me questionava porque eu mantinha aquelas lembranças e chorava novamente. Me recuperei, finalmente, desse fardo e percebi que meu passado deveria morrer. Passados nunca são bons, nos trazem lamentações por ter tomado uma atitude errônea, ou então por não ter tomado atitude nenhuma. Nos faz lamentar ter amado demais, ou não ter amado. Amar demais... Algo bem complexo a se pensar. Certa vez, você me disse que a cabeça está em cima do coração pra emoção não passar a razão. E eu lutei até os últimos vestígios de forças para fazer minhas as suas palavras. Não obtive sucesso. Eu já estava apaixonada por você e nada iria mudar isso. Não posso afirmar que foi fácil. Na verdade, não foi nem um pouco. E doeu. Doeu muito por um longo tempo. Eu não podia recorrer a minhas forças. Já havia perdido-as tentando lutar com todo aquele sentimento que me afligia. As forças vieram dos que estavam ao meu lado. Eles sustentavam minha alma como podiam. Senti vestígios da angustia, que momentaneamente senti, escorrer pela minha face e seu gosto salgado encontrar meus lábios. Não demorou muito para ser substituído por um doce sorriso. Aquele que foi trazido junto com a lembrança da sua voz pronunciando que me amava.  E desde aquele dia, eu nunca mais fui a mesma. Sentia-me completa. Viva novamente. Forte novamente. Desejei naquele momento encontrar a paz em seu abraço, entorpecer-me com seu cheiro e provar do seu gosto.

Não irá tardar a acontecer... Só restam três meses. Noventa e dois dias. Duas mil duzentas e oito horas que serão engolidas pelo tempo.