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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Courtesan - PARTE 1



O sol se espreguiçava no horizonte quando acordei. Banhava o quarto com uma claridade que fazia doer os olhos. Tateei o velho relógio e consultei-o. Cinco e meia. Havia amanhecido tão rápido que eu nem havia me dado conta. Meu corpo protestava de cansaço e exigia permanecer ali para compensar o sono acumulado de noites seguidas. Ignorei-o. Ao meu lado, um corpo suspirava enquanto dormia. Virei-me o suficiente para ver quem era. O rapaz nu jazia por entre as cobertas brancas que cobriam-lhe as partes intimas. O peito despido subia e descia ao seu respirar. Recordei suas feições assim que havia entrado ali. Poderia passar o resto do dia contemplando seu sono calmo.
Vencendo o cansaço, lancei minhas pernas para fora da cama bagunçada e levantei lentamente, recolhendo minhas vestes que, tão meticulosamente, ele havia tirado na noite passada. Vesti-as calmamente, colocando todas as saias e vestidos, apertando por fim o corselet que moldava minha cintura. Abri a porta com cuidado, almejando não despertá-lo e sai do quarto. Rendi-me a caminhar silenciosamente pelo corredor de portas fechadas, ignorando gemidos, suspiros e roncos dados por trás delas. Enquanto caminhava, recuperei vestígios de lembranças da noite anterior e esbocei um sorriso.
- Vejo a satisfação brilhando em seu olhar, Juliete. – aquela voz. Fria e aguda me causava uma ânsia quase insuportável. Seu tom carregado de desprezo chegava a doer na alma. Virei-me para encarar o verde frio dos olhos de Daphné, enquanto um sorriso cínico brincava no canto dos lábios vermelhos e desenhados dela.
- Não encontro motivos para sentir satisfação, Daph! – respondi. – O simples fato do filho do Duque ter optado por mim não é capaz de me fazer sentir orgulho. Eu não sou você! – Desprezei sua resposta e rumei para o quarto que costumava abrigar todas nós quando não estávamos acompanhadas. Ergui as longas saias para permitir-me subir a escadaria e bati na porta. Pude ouvir as vozes de René e Nicole debatendo sobre algo e, pausadamente, pronunciarem-se em uníssono: - pode entrar!
Abri a porta e esgueirei-me para dentro do quarto, sendo surpreendida pelos gritos agudos das garotas que me puxaram assim que fechei a porta. Natalie, Lenora e Isabele, que antes se distraiam com alguns chapéus de pena, se juntaram ao conjunto de outras delas que corriam em minha direção. René obrigou-me a sentar numa das poltronas do quarto enquanto Nicole dizia: - Não nos esconda nenhum detalhe!
- Não tenho nada a declarar! – Pronunciei-me, divertindo-me com a curiosidade delas.
- Claro que tem! – Lenora disse.
- Conte-nos tudo! – Isabele completou.
Sorri involuntariamente e aquela cachoeira de saias e penas se acomodaram no chão do quarto coberto pelo carpete vermelho sangue enquanto eu relatava os acontecimentos da noite anterior. Ouviam-se suspiros, risadas e gritinhos histéricos partidos delas até a conclusão do relato. Um silêncio foi implantado no cômodo enquanto todas elas fitavam-me com curiosidade.
- ele irá retornar! – Natalie afirmou convicta de si.
- descarto esta possilidade. – levantei-me e despi alguma das saias, deitando-me na cama que ocupava ali. Sabia que, de uma forma ou de outra, eu desejava no meu intimo que ele realmente retornasse. Naquele momento, eu estava quebrando as regras que impuseram a mim ali.
- ele irá retornar! – Nicole cochichou no meu ouvido antes de deitar-se na cama ao lado.
Encarei-a longamente e ela lançou-me um ultimo sorriso antes de ocupar-se com um livro de contos eróticos. Tentei não pensar naquela possibilidade.

Na noite seguinte, a profecia delas se cumpriu. Ele retornou.

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