Páginas

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Breathe - Parte 1


O bloco de papel descansava nas mãos de Mel enquanto a caneta escapava lentamente de suas mãos. Uma brisa fria entrava pela janela e a garota, parcialmente despida, acabara desistindo de mais uma tentativa frustrada em escrever o que sentia. Serviu-se de mais vinho e deixou seus pensamentos vagarem junto com a música lenta que tocava insistentemente, repetindo sua melodia triste pela trigésima vez. Mel fechou os olhos e acolheu-se no chão frio. Os pelos do seu corpo erriçaram-se. Desejou adormecer, mas parecia acesa. O cômodo já estava escuro e o vento se tornava mais gélido.  A noite se instalava aos poucos e nuvens de chumbo ocultavam as estrelas. A lua não apareceu.

Mel tomou um gole do vinho e sentou-se novamente. Assanhou os cabelos negros e tomou a caneta nas mãos. Conjurou todas as lembranças ocultas em seu intimo na esperança de relatar nas páginas soltas do caderno o que sentia. Datou o papel branco e o encarou durante longos minutos enquanto ele aguardava acolher mais um de seus segredos. O caderno, seu fiel confidente. Deixou então que a caneta escorregasse pelo papel e relatasse as seguintes palavras:

“Ela não veio.”

Encarou mais uma vez a página enquanto o som da repetitiva música se misturava aos pingos de chuva que começaram a caiam do lado de fora. Mel sentiu o frio noturno queimar em sua pele, mas não ousou levantar dali, tampouco aquecer-se.  Desejou, entretanto, obrigar seu corpo a provar aquela sensação. Anestesiar a sensação de solidão que começou a enegrecer sua alma.

Inesperadamente, sentiu o sangue do seu corpo se esvair quando ouviu as conhecidas batidas suaves na porta. Parecia a melodia da redenção. Mel levantou-se apressadamente e escancarou a porta a tempo de ver Freja dobrar os nós dos dedos, pronta para anunciar a sua chegada novamente. Uma expressão de surpresa se instalou no rosto dela ao contemplar o corpo seminu de Mel.  Os cabelos molhados pela chuva colavam em suas feições magras.

“Você não me avisou que aquele rio, o da entrada da cidade, enchia no inverno!”

Mel sorriu fraco e a sensação de alivio percorreu suas artérias. Abriu espaço e Freja entrou na casa. Rendeu-se a fechar as janelas e esconder seu caderno dentro de uma das cômodas disposta na sala de estar. Freja despiu os casacos molhados e pendurou-os. Mel acendeu a lareira e sentou-se no lugar que antes lhe acomodava. Acolheu Freja em seus braços em seguida e beijou seus lábios finos. De repente, tudo parecia bem.