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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Courtesan - PARTE 2


Lábios vermelho sangue. Vestido com rendas e fitas. Uma tiara que decorava os cachos. Um instinto que complementava. Não se desprezava a necessidade dele. O instinto.

Nicole dava os últimos retoques em sua maquiagem bem elaborada enquanto Lenora me auxiliava com o corselet; puxava e apertava, anulando minhas chances de respirar e diminuindo dez centímetros da minha silhueta. Pietro já anunciava aos freqüentadores do Le Chat Noir que nos apresentaríamos dentre alguns minutos. Muitas das cortesãs já se encaminhavam para o palco. Ergui-me lentamente, sentindo a compressão de meus pulmões. Ajeitei meus seios dentro do vestido magenta e acompanhei a massa de garotas que andavam apressadas, já ouvindo os urros excitados dos cavalheiros.
A música foi iniciada e eu respirei fundo, meu coração golpeava meu peito como se desejasse pular fora dali. Intimamente, eu sabiao que temia. Hesitei momentaneamente antes de entrar no palco, porém os segundos não estavam a meu favor. As cortinas se abriram e René agarrou minha cintura conforme a coreografia. Imediatamente, segurei as anáguas do vestido e entrei numa fila perfeitamente alinhada.
Em meio a giros e saltos, jogadas de pernas e de saias... Em meio à batida lenta e rápida da melodia persuasiva e aos gritos e aplausos dos cavalheiros empolgados, distingui aquele olhar. Meu corpo reagiu com um espasmo. Ele se encontrava numa das primeiras mesas perto do palco, suas mãos se encontravam numa sincronia perfeita em palmas. Precisas e calmas. Um Martini descansava em sua mesa. Outras cortesãs passavam ao seu lado e acariciavam seu peito; fatos que não abalava sua fleuma nem desviava sua atenção. Teria agradecido se ele tivesse parado de inflamar minha pele com os olhos. A íris em chamas. Embalei-me até o fim, ignorando sua presença ali até a batida final. Ele se ergueu e sua voz se misturou aos gritos dos outros. Não esperei os agradecimentos.

- Eu já disse que não vou! – Enfatizei meu desejo.
Uma multidão de garotas estava reunida na porta do quarto principal. Assistiam a discussão como expectadoras fiéis.
- Juliete – Pietro segurou meu rosto com as duas mãos e penetrou-me com sua íris azul que fazia doer à consciência. – Você não está entendendo! Ele-está-pagando-o-dobro!
- Dom Pietro, sei que isso está acima de sua compreensão – falei a beira de um ataque de nervos. – Mas use o bom senso uma vez na sua vida e ignore os apelos dos seus bolsos... Eu não posso atender o Sr. Chevalier!
- Isso não depende mais das suas escolhas, Juliete! – Pietro largou minha face como se, momentaneamente, estivesse eletrizada. – Ele lhe aguarda no quarto sete.
Um nó foi atado em minha garganta e Natalie fitou-me longamente. Lenora pronunciou um “sinto muito!” mudamente. Levantei, sentindo o choro amargar a boca e passei pelas garotas que me acompanharam com uma atenção incomoda. Algumas delas disseram: - Boa sorte!

Anunciei minha presença com três batidas na porta de carvalho e abri. Um cheiro de cigarro pairava no ar, misturados com um perfume persuasivo que ardia os pulmões. Logo notei sua presença. Parado na janela, ele contemplava a paisagem da noite Francesa. Fechei a porta, que estalou ao ser trancada, e sua atenção se voltou para mim. Meus pés criaram raiz no carpete verde musgo e me impossibilitaram de dar algum passo. Minha voz foi engolida pela ansiedade.
Chevalier sentou na beirada da cama e estendeu-me à mão. Uma força maior me fez caminhar em sua direção até que suas mãos pudessem tocar minha cintura.
- Fico feliz que esteja aqui. – sua voz sedosa atingiu-me com a confissão.
- Sr. Chevalier... – comecei.
- Alaster. – corrigiu-me. Cada poro do meu corpo reagiu ao seu tom de voz. Suas mãos hábeis desfaziam os nós do corselet apertado e, pela primeira vez na noite, senti o oxigênio intoxicar-me internamente. Acariciei seu cabelo displicentemente, sentindo seus toques precisos e notando a correspondência do meu corpo a todos eles. A resistência não poderia mais existir naquele momento. Enquanto ele despia minhas saias, rendi-me a sentar em seu colo e beijar-lhe os lábios. Suas mãos afagavam meus cabelos e exploravam minhas costas.
Em meio aos devaneios da madrugada que caminhava preguiçosa, pude sentir sua boca explorar as restrições do meu corpo. À medida que isso acontecia, eu devolvia-lhe o agrado conforme o desejo aumentava. Quando nossos corpos se alinharam, ele me fez subir do inferno ao céu em uma só estocada. A sincronia do movimento perdurou até eu sentir a sensação formigar minha pele. Deixei escapar uma rajada de ar retida em meus pulmões e deitei-me ao seu lado. Encarei seu olhar silencioso que me dizia algo. De certa maneira, eu consegui decodificá-lo. Só não desejava acreditar.

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