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sábado, 17 de abril de 2010

Break this bittersweet spell.


As nuvens pesadas que pairavam no céu escuro daquela noite sombria traziam o presságio da morte. Era de se esperar que aquelas palavras fossem me afetar tanto, ferir minha alma impiedosamente como ninguém nunca havia feito. Àquela altura, a opção mais viável para cessar toda dor que me habitava parecia cada vez mais convidativa. Eu ouvia o vento soprar em meu ouvido, cochichar algo enquanto eu tentava decodificá-lo.

A chuva não tardou a cair e os grossos pingos encharcarem meu corpo. Meus cabelos colavam em minha face.

Eu tremia compulsivamente, meu corpo urrava para ser aquecido mais eu o ignorava. O frio vem do psicológico, assim como a dor física; dor esta que não era mais capaz de substituir minha agonia interior.

Pensamentos desconexos, teorias absurdas, eu buscava entender... Tentei inutilmente deduzir o que eles procuravam em mim. Não encontrei. Minha utilidade? Nenhuma. Minhas vontades? Eu não sabia. Quem eu era? Sinceramente, nem conseguia responder para mim mesma.

Sentindo os pingos que ainda atingiam-me irem se multiplicando e munida de uma coragem que surgiu devido ao acaso, levantei e fui até a beirada do prédio. Fitei o chão e ele parecia chamar meu nome num sussurro lento e persuasivo.

Num sopro do vento, num mísero segundo, senti meu corpo pender e eu já sentia a paz de finalmente extinguir minha dor se esvairir. Ia ser rápido e letal. Prático e simples.

Mas algo me interrompeu. Senti um par de braços segurarem minha cintura e me puxarem. Fitei o olhar dele, assustado enquanto ela, um pouco distante de nós dois, corria em minha direção com os olhos vermelhos, transbordando aflição.

Deixei que os braços dela me envolvessem, num abraço reconfortante. Ele, que nos observava, amparou meu corpo tenso e cansado. As lágrimas escorreram pela minha face e se misturaram com a água da chuva.

“me perdoem!” pronunciei baixo.

“vai ficar tudo bem!” eles disseram ao mesmo tempo.

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