O palácio de gelo estava vazio. Suas paredes cinzentas
pareciam mais sólidas do que nunca. Cristais de gelo pendiam do teto. Olhei em
volta e, de repente, constatei a figura que dançava sozinha. O vestido fluído
balançava de um lado para o outro conforme seus passos a guiavam.
Olá? – Gritei. Minha voz ecoou pelo lugar e os cristais
tilintaram num som trouxe um presságio de morte. – Sabe como eu posso sair
daqui? – Tentei novamente e pude ouvir o eco devolver minha voz aguda. A garota
parara de dançar. Aproximei-me devagar e constatei o quanto seu cabelo era
curto. Os ombros a mostra deixavam claro seu estado de magreza. Ela se virou
lentamente e me fitou por trás de sua máscara dourada. Um silêncio sepulcral se
instalou sobre nós, quebrado apenas pelo tilintar dos cristais no teto.
- Você sabe como. – Ela disse finalmente, sua voz me soando
familiar. Voltara a se balançar no mesmo lugar. As mãos desajeitadas traçavam
círculos em volta de si. Me aproximei mais ainda daquela figura esguia e
segurei em uma de suas mãos.
- Eu realmente preciso sair daqui. –
implorei sentindo seus dedos finos se entrelaçarem aos meus. Senti sua mão
gelada me passar uma estranha corrente de energia. A garota se afastou de mim.
Correu na ponta dos pés e cochichou com as paredes. Emergira dali mais uma
garota. E outra. E mais outra. Olhei em volta e já totalizavam sete. Todas
rumaram até mim, cada uma usando uma máscara diferente. A atitude seguinte me
pareceu estranha. Fui laçada por um abraço coletivo que não durou muito.
A garota inicial, com sua máscara dourada, destacou-se entre
elas e se dirigiu até mim. Sua voz suave me envolveu como uma bela canção. “Só
uma poderá sair daqui”. Apontou para si, para mim e para as outras garotas que
agora dançavam. Respondi com toda a certeza que seria eu. Ela me fitou
longamente. “Tem certeza? Porque se for você a que irá sair daqui, nada
mudará!” Confusa, encarei-a por longos minutos. Então, vi o vislumbre do meu
próprio sorriso brotar em seus lábios e a compreensão me golpeou. Sabia que, se
eu tivesse de ficar ali, deixaria de existir. Qual escolha eu deveria tomar?