No one knows who we are there
Let's run away, I'll take you there.
Matar alguém não era uma tarefa fácil, tampouco promissora. Apesar disso, algo me dizia pra continuar na tocaia, aguardando o momento certo para atacar. Sentei naquele espaço sujo e encostei a Sniper no canto da parede, abri a garrafa de água e tomei dois goles. Era um final de tarde quente e a umidade do ar era baixa. Xinguei-me mentalmente por ter aceitado este trabalho. Fitei o céu por alguns minutos, mentalizando todas as instruções que recebi e me perdi na imensidão com colorações incríveis diante dos meus olhos. Sempre fui fascinada pelo cair da noite.
Despertei em míseros segundos com o som dos fogos de artifício que anunciavam a chegada da minha presa. Procurei no bolso da calça jeans a cigarreira azul petróleo -ganhei do meu avô aos meus dezessete anos. – e apanhei um Marlboro Medium. O acendi com o isqueiro que sempre carrego comigo – presente do meu avô também. – e traguei, soltando, em seguida, a fumaça branca e entorpecente no ar.
Uma multidão se aproximava junto com ele; todos o aplaudiam, o veneravam. Com um sorriso de canto, posicionei a Sniper com a eficiência que fui ensinada e com a sua aproximação vantajosa, atirei.
O caos foi instalado. A roupa branca dele agora se manchava de vermelho. Toda a segurança que foi estipulada para protegê-lo procurava o causador de tamanho alvoroço. Alguns corriam na direção dele e checava o tamanho do ferimento em sua têmpora esquerda. E eu, satisfeita com meu desempenho, saia tranquilamente da cobertura do prédio com a arma do crime pendurada nas costas.
E se me encontrassem? Ninguém nunca conseguiu esse feito. Eu não era uma qualquer, eu fui treinada para matar. Exterminar a pessoa certa ou não, a sangue frio ou não. Eu era paga. Aquele era meu trabalho. Entrei no carro e fugi com o sentimento de dever cumprido.
Tome o seu rumo, siga sua vida, não ouse olhar pra trás. E se você ousar olhar pra trás, que não me procure; eu não estarei no mesmo lugar que você me deixou. Com as mesmas intenções que as suas, seguirei a minha vida. Buscarei minha felicidade, encararei a vida, brigarei pela realização dos meus sonhos.
Foram bons momentos aqueles. Aqueles em que nossa ligação parecia nunca ser capaz de quebrar. Sorriamos da desgraça e encarávamos as dores que nos foram impostas. Promessas foram feitas e planos foram construídos. Coisas que não me arrependo e nem me arrependerei de ter feito. E diante de uma bela paisagem, você prometeu nunca me abandonar. O erro foi meu?
Então vá, tome o seu rumo, siga sua vida, não ouse olhar pra trás. E se você olhar pra trás, que não me procure; eu não estarei no mesmo lugar que você me deixou. Eu continuei com os pés descalços, caminhando por uma estrada solitária onde a única companhia que eu tive foi da minha respiração cansada. Em determinados momentos chorei. As cicatrizes não existiam mais, porém eu sentia falta da tua presença para acalentar minha alma.
Aqui estou eu, acenando meu ultimo adeus e deixando-te partir.