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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Le Suicidal Feeling - Parte 6



Ressaca. Era nesse estado que eu me encontrava.

Ela estava deitada ao meu lado, os cabelos cor de trigo e a pele branca destacavam-se na roupa de cama preta. Tentei levantar e pude sentir minha cabeça rodopiar e a vista escurecer. Contemplei o corpo adormecido dela e recordei o dia em que a vi pela primeira vez. A imagem da padaria surgiu em meus pensamentos como névoa e um vago sorriso brincou em meus lábios. Muito tempo havia passado.

Comecei a recolher as minhas peças de roupa do chão e a vesti-las. As garrafas de vodka habitavam as mesas de cabeceira e o cheiro de cigarro pairava no ar. Avistei minha imagem no espelho do quarto dela e me arrependi no segundo seguinte. Precisava voltar pra casa e tomar o banho mais demorado da minha vida.

"B?" - Ela afastava os cabelos loiros do rosto e abria os olhos com dificuldade. Sem dúvida, a ressaca também a possuia.

"To indo pra casa!" - Falei apanhando minha bolsa e resgatando as chaves do meu carro que estavam embaixo da calça jeans dela.

"Já?" - Seu tom de voz foi triste e melancólico. Aqueceu minha alma por meros segundos até a resposta vir fresca em meus lábios e minha voz pronunciar: "Pois é, tenho coisas a fazer!"

"Posso te ligar mais tarde?"

"Se assim desejar..." - Abri a porta do quarto sentindo-me podre. Não iria atender se ela me telefonasse.

Abri a porta do carro e respirei fundo. Tentei lembrar do que ocorrera na noite anterior. Minhas mãos deslizavam pela pele macia dela enquanto suspiros e gemidos escapavam de sua boca. Sentia seus músculos ficarem rigidos e os pêlos se eriçarem a cada estimulo que eu lhe dava de bom grado. Sorri de canto e dei partida no carro a fim de chegar em casa rápido. O sol já se espreguiçava no horizonte.


A solidão de minha residência esbofeteou minha face e o silêncio foi quebrado pelo eco dos meus sapatos ao caminhar. Evitava passar muito tempo enterrada em minhas lembranças. Evitava passar muito tempo comigo mesma. Evitava passar muito tempo em minha própria casa. Isso fazia minha alma ganhar vida e eu preferia optar pelo coma profundo que ela entrava quando eu estava fora dali.

Caminhei até meu banheiro e fui deixando minhas peças de roupa durante a trajetória. Larguei a bolsa em cima da pia de mármore e sem ao menos despi a calcinha, entrei embaixo do chuveiro. Esperei a água fria lavar o que entranhava-se em meu peito, mas aquela sensação permanecia ali. Meu estômago embrulhava-se em mil partes. Senti as lágrimas congelarem em meus olhos e minha garganta atar-se em um nó amargo.

Bullet for my Valentine começou a soar dentro de minha bolsa. Sai com o corpo pingando água pelo chão e quase escorregando no piso molhado e apanhei o celular. De repente, meu coração parou de bater. Em seguida, disparou só para manter-me viva. O nome dela podia ser claramente visto no visor. Meu corpo entrou em convulsão e com um suspiro longo, daqueles tomados para que a coragem brote do além, atendi.

"E aí, tais bem?" - Permaneci muda apenas ouvindo a voz dela. O pesadelo começara.

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