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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Le Suicidal Feeling - Parte 7


"Eu acho que nunca foi amor. Hoje não chamo tudo isso de saudade. Chamo de sentir falta."


A campainha tocou na hora que ela havia marcado. Alguma coisa parecia prestes a entrar em colapso dentro do meu peito. Meu coração batia tão forte que eu o sentia nas têmporas. Mirei-me mais uma vez no espelho tentando convencer a mim mesma que era forte o suficiente encontra-la novamente.

“Demorasse pra atender!” – Ela me disse assim que abri a porta e dei passagem para ela entrar.

“Estava acabando de me arrumar” – Fitava meus pés como a coisa mais atrativa para se fitar no momento. Uma névoa de tensão pairou no ar. O silêncio escorregou pela porta quando a fechei e se ambientou na sala imersa na penumbra. – “O que você quer?” – Tomei coragem para finalmente perguntar.

“Preciso de um motivo para vir aqui? Somos amigas, lembra?” – Ela sorriu e me encarou longamente enquanto eu soltava um riso rouco e irônico e finalmente olhava em sua cara.

“Nossa, como eu pude esquecer este detalhe?” – Minha ironia falou mais alto. Comecei a andar em direção a cozinha, um dos cenários de minha casa que as recordações com ela me bombardeavam com frequência quando eu ali estava. Ela me seguiu como uma sombra agourenta.

“Vim te desejar feliz natal!” – Ela falou.

“Você me ligou à tarde! Poderia ter feito isso por telefone, não?” – Falei no tom que tanto me controlei para não usar. – “Fácil sumir e depois voltar com um sorriso no rosto e um feliz natal na ponta da língua, não é?”.

“E um presente também!” – Ela me estendeu uma caixa e meu olhar desconfiado pairou em seu semblante antes de contemplar o presente que ela me oferecia. Apanhei e evitei olhar para ela até descobrir que ela havia me dado um livro de um dos meus autores favoritos.

“Sei que você gosta de Carlos Ruiz Zafón!” – Ela sorriu.

“Não sei como você sabe!” – Meus lábios contraídos expressavam a minha frustração. – “Você não gosta de ler.”.

“Eu gosto, mas poucos livros me atraem.” – Ela respondeu dando de ombros e sentando no balcão da cozinha. Apanhou uma uva da fruteira e comeu. O silêncio atravessou a casa e pairou na cozinha.

“O que diabos você quer, afinal?” – Arremessei a pergunta aos pés dela e aguardei enquanto ela processava a informação que eu queria. Parecia escolher as palavras com cuidado.

“Eu só queria te ver!” – Ela me respondeu e sorriu mais uma vez. Parecia se divertir com o meu estado de perturbação aguda.

“Ah é? Parece fácil ir embora e me deixa aqui sozinha , não é? Pois eu vou te dizer uma coisa, eu passei por muita coisa para ficar bem e não vou deixar você acabar com todo o meu esforço dessa forma! Acha que é só voltar com uma droga de livro que tudo vai ficar bem? Não, não é assim que...” – Não pude concluir meu monólogo em forma de desabafo. Ela desceu do balcão, envolveu minha cintura e beijou-me os lábios intensamente. Vi meu controle se esvair enquanto eu a conduzia pelas escadas em direção ao meu quarto escuro. As mãos dela embrenhavam-se por dentro da minha roupa enquanto eu já me rendia a tirar sua camisa.

O primeiro erro fora cometido durante o pesadelo.

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