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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Le Suicidal Feeling - Parte 2


"Preciso ir agora." - eu disse.
"Eu te levo em casa!" - ela sugeriu.

Pestanejei por um momento antes de assentir, plena de que eu não conseguiria dirigir até minha casa após aquelas generosas doses de whisky. Um dos braços dela envolveu minha cintura. Com a outra, ela terminou o cigarro e arrancou as chaves da minha mão. Meus olhos fitavam um horizonte que já não era mais visível, meu olfato só era capaz de captar seu cheiro, minha mente estava totalmente entorpecida com a sua presença.

Dentro do carro, a escuridão era sepulcral, incomoda. Descancei a cabeça no banco enquanto ela colocava o cinto de segurança e dava partida. Enquanto ela dirigia, rendi-me apenas a observar as ruas desertas daquela noite abafada. Ocasionalmente, sentia o olhar dela rastejando sobre mim e encolhia-me no estofado do carro, levemente constrangida.  Em meio aos devaneios do caminho, deixei minha imaginação fluir  e deleitei-me com pensamentos desconexos e formidavelmente excitantes, onde a protagonista era ela.

O ar estava cálido quando paramos em frente a minha casa. O silêncio parecia um barulho assustador e irritante que martelava no íntimo do peito. Ou talvez as marteladas fossem do meu coração, traíndo-me? Relatando tudo o que eu sentia através de batidas fortes?

"tá entregue!" escutei-a dizer. Descemos do carro e ela me entregou a chave. "Como você vai voltar pra casa?" a curiosidade me impulsionou a perguntar. Ela me lançou um sorriso. Aquele sorriso quase perverso que abalava minha calmaria. "Eu me viro!" respondeu.

Ainda incapaz de articular muitas palavras devido a forma intensa que nos encaravamos, murmurei um boa noite quase mudo e um obrigado dito de forma breve. Deixei-a ali, parada enquanto lutava para chegar até a porta e refulgiar-me de sua presença dentro da segurança do meu lar. Minhas mãos tremiam convulsivamente enquanto eu tentava buscar a chave no interior de minha bolsa. Arrisquei um olhar na direção em que ela estava e senti meu coração estancar momentaneamente. Parada a alguns centimetros de mim, ela estava. Sua proximidade era tão absurda que podia distinguir cada sarda de sua face. Sem aviso prévio, suas mãos agarraram meu rosto e seus lábios rumaram de encontro aos meus sem encontrar resistência.

As chaves apareceram. A porta foi aberta. Eu estava em sua companhia. Nossas bocas permaneciam unidas. A noite parecia longa o suficiente para o que viria a acontecer.

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