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domingo, 18 de setembro de 2011

Le Suicidal Feeling - Parte 3


E você quer três desejos:
Um para voar pelos céus
Um para nadar como peixes
E então um outro que você guarda para um dia de chuva.
Se sua amante levar o amor dela embora.

(Three Wishes - The Pierces)

Uma luz repentina esgueirou-se para dentro do cômodo, anunciando que já amanhecera. Abri meus olhos lentamente, tentando me acostumar com a presença da claridade. Enquanto o  vento acariciava as cortinas do quarto, que dançavam ao seu toque, despertei meu corpo com uma breve espreguiçada e tateei a cama em busca do corpo dela.

Do meu lado, jazia apenas um espaço vazio.

Chamei-a, mas não houve resposta. Meu corpo arrastou-se para fora da cama - ainda era possível sentir o cheiro dela empregnado em mim - e explorei minha casa em sua busca. Gritei seu nome incontáveis vezes, acreditando que ela poderia se materializar em minha frente a qualquer instante e esboçar aquele sorriso que me tirava do eixo. 

A verdade foi jogada aos meus pés e eu me vi obrigada a apanhá-la. Ela havia partido. Abandonou minha casa, deixando-me sedenta por suas palavras de explicação. A manhã não parecia mais tão quente, agora era gélida. Pingos de chuva começaram a ser descarregados lá fora. Escorreguei lentamente pela parede e larguei meu corpo no chão frio, estava semi nua. Algumas lágrimas escaparam dos meus olhos e descansaram em meus lábios. Seu gosto era de solidão.

Lembranças da noite anterior me bombardearam e pude jurar ser capaz de sentir o toque das mãos dela em minha pele, inflamando cada poro do meu corpo. O gosto dos seus lábios ainda habitavam o interior da minha boca. Ansiei intimamente pela próxima vez que iria prová-lo. Conclui em seguida que não haveria um novamente. Sua ausência deixou o fato consumado.

O barulho repentino na porta me fez despertar de minhas recordações.

O cabelo dela estava encharcado devido a chuva lá fora. A porta foi fechada e sua voz rouca me saldou com um sonoro 'Bom dia!'. Ela me fitou longamente, esboçando um sorriso de canto. Carregava sacolas de um supermercado que havia próximo a minha casa. "Trouxe o café da manhã, tua despensa estava vazia e eu tive de ir comprar umas coisas!" Ela falava, enquanto rumava para cozinha. Levantei-me do chão e sequei as lágrimas discretamente. 

"Aconteceu alguma coisa?" Seu olhar pairou sobre mim e eu sorri. 
"Não! Eu... estou feliz por você estar aqui!" respondi. Ela me ofereceu um sorriso e começamos a preparar o café da manhã, trocando beijos, abraços, carinhos e confissões. A história foi iniciada.

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