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sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Nada me parecia suficiente naquele instante. Lágrimas já não eram mais choradas. No peito, apenas a sensação de que algo faltava. Os olhos tristes e vermelhos fitavam o teto, enquanto os braços pendiam ao lado do corpo mórbido que habitava a cama. Seria meu esse corpo ainda?

O nó foi atado em minha garganta e eu não sabia se continuava viva. As fugas premeditadas de minha própria dor já não surtiam tanto efeito quanto antes. Meus pensamentos eram convertidos em lembranças tristes, numa saudade que embriagava-me e numa solidão que me envenenava a cada suspiro. 

Na ansia de me encontrar, me perdi. E no desejo de sentir-me viva, sangrei. O coração, que antes me pertencia, pulsava rápido e se chocava contra o peito ossudo do meu corpo. Enquanto o liquido vermelho vivo gotejava nos lençois encardidos, a culpa esbofeteou minha face. Acolhi-me no meu leito tortuoso e busquei numa falsa esperança razões para continuar ali.

De repente, aquele cheiro invadiu minhas narinas. Era puro, reconfortante. Como um chamado para a redenção. Debaixo do travesseiro, puxei a causadora de tamanho rebuliço em minha alma. Aquela camisa. E enquanto a imagem daquele indíviduo perambulava em minha mente, todo o tormento foi traduzido em lágrimas amargas que descansaram em meus lábios.

Busquei abrigo nas recordações de sua imagem e assim adormeci um pouco de minha agonia. Em meio ao silêncio moribundo ambientado no quarto, desejei ouvir aquela voz. Desejei estar em sua presença para que seu corpo me envolvesse num abraço que me devolveria a vida.

A escuridão ambientada ali não anunciou presença alguma. Estava eu apenas em minha companhia leviana. Esperando alguém que não iria entrar pela porta naquela noite. Talvez nunca fosse adentrar. Meu peito ardeu em desespero junto com as marcas gravadas por lâminas em meus braços. As lágrimas sessaram.
Dei-me por vencida e fechei os olhos, ainda sentindo aquele cheiro. Fugi covardemente de minha realidade e dos fantasmas que me assombravam, refugiando-me assim num sono profundo e sem sonhos. Sem forças, sem vida.




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