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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Much Like Falling


 Não sou má. Tampouco sádica. Não me ostento com meus feitos, porém, dificilmente tenho piedade quando uma alma se entrega a mim de bom grado.

Era um cenário tristonho. Algumas garrafas jaziam vazias no chão; ela havia bebido todo o seu conteúdo nas ultimas semanas na tentativa de anestesiar a sua dor. O quarto cheirava a mofo e o chão estava repleto de cinzas de cigarro. A penumbra era quebrada por um fino raio solar que adentrava pela fresta das janelas fechadas.

Debaixo de cobertas puídas, seu corpo estava.

Era magro. Os cabelos muito negros e curtos escondiam as feições que, um dia, já foram belas e apreciadas. Não havia mais lágrimas para serem choradas. No lugar delas, apenas o ardor na garganta e uma tonelada sobrecarregando o peito. Marcado no braço, o preço da solidão. Entre os dedos, estava preso o cigarro que ela havia desistido de fumar. 

Suas mãos foram em busca de mais uma droga, abandonando a fortaleza de lençois que protegiam seu corpo do ar gélido do cômodo. A respiração dela era dificultosa, o ar parecia queimar suas entranhas. A cada sopro de coragem, ela engolia um comprimido. Cada comprimido parecia comprimir seus anseios na mesma proporção que seu corpo agonizava. E em meio a isso, o pranto mudo interveio. Toda a dor voltou a escorrer através dos olhos castanhos dela. 

Estava eu prestes a agarrar sua mão e levá-la comigo, quando o feito foi intervido. Suspendido pela presença de um outro alguém que veio ao seu encontro, tomo-a nos braços enquanto ela sentia a vida esvairir-se do seu corpo debilitado. Parecia desejar vir ao meu encontro ao mesmo tempo que o se arrependia do crime que cometera contra si. Estava destruída por dentro.

Assim, doei a ela mais tempo. Tempo para se perder e se encontrar.

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