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sábado, 13 de março de 2010

I'll be with you


Para: aquela que me devolveu a luz.

Eu caminhava sem pressa pela travessa deserta, sentindo a brisa violenta sussurrar nos meus ouvidos algo que eu não era capaz de compreender. A atmosfera fria iniciava um processo de congelamento das minhas entranhas e as nuvens densas não me pareciam capazes de carregar os pingos lívidos da chuva por muito tempo. Ela caminhava a passos lentos ao meu lado, exalando a proteção que eu precisava, ela era a luz que indicava meu caminho, eu era a sua mariposa ingênua totalmente entorpecida por seu brilho. Fomos engolidas pela escuridão repentina, seguida do temporal violento que lavou nossos corpos e que não abalou nossa calmaria. Ela segurou minha mão dormente de frio e me guiou para o abrigo que necessitávamos. Apesar de estar sempre quente emanando meu calor, eu tremia compulsivamente, totalmente encharcada enquanto a água escorria pelas minhas vestes, fugitiva. Seu abraço não tardou a chegar e foi a sua pele constantemente fria que me aqueceu, mesmo estando igualmente molhada. Eu transpirava exaustão e minhas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas, meus joelhos estavam prestes a ceder e me fazer cair sem nenhuma cerimônia.

Alguns sobreviventes corriam pela rua lavada; fugitivos dos pingos furtivos e cheios de revolta que permaneciam a cair. Nenhum deles foi capaz de notar nossa presença, eram ignorantes demais para isso. Da janela lavrada de um prédio, uma velhinha observava o movimento, ou estava imersa nos próprios pensamentos. Esse é o poder que a chuva exercia sobre nós. Era capaz de lavar nossos temores e incentivar nossa busca por determinadas resposta. Fui surpreendida pelo olhar tranqüilo dela que me fitava com curiosidade. Eu fui incapaz de virar o rosto, tinha receio de quebrar aquela conexão tão poderosa que possuíamos.

Foi nos seu olhar reluzente que encontrei a paz roubada de mim; ela me devolveu a vida que eu já não era mais capaz de seguir. Ao seu lado, fui capaz de pronunciar-me sem o temor de ser censurada ou repreendida.

E foi ali que permanecemos; eu sendo aquecida por ela sem dar importância ao mundo a nossa volta. Em meio aos deleites, eu era privilegiada pela presença dela. Ali, pra mim, tudo bastava. Não sentia medo, sua voz me envolvia com as palavras que mais desejava ouvir: ‘tudo ficará bem!’.

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