Páginas

terça-feira, 16 de março de 2010

Please, don't leave me! (parte 1)


Senti a água gélida eriçar os pêlos do meu corpo inteiro quando entrei embaixo do chuveiro. Apoiei minhas mãos na parede azulejada e criei a falsa esperança de que a água levaria com ela a dor e a frustração que envenenava meu coração. Frustração tão grande essa que me fazia acreditar merecedora de tudo que me afligia. Meu desejo de não chorar era em vão, meus olhos lacrimejavam furtivamente.
Sentei-me no chão, mantendo o chuveiro ainda ligado, e abracei meus joelhos tentando organizar meus pensamentos e tomar uma decisão que satisfizesse ambos os lados, mas tudo que eu consegui esclarecer foi que eu não seria mais nada sem a sua existência. Por mais que eu encontrasse alguma solução para nossos problemas, eu não seria capaz de deixá-lo.
Meus dedos já estavam incrivelmente enrugados quando decidi me retirar daquele banho demorado e por em pratica tudo que eu havia planejado naquele longo tempo. Desliguei o chuveiro, enrolei-me numa macia toalha branca e rumei de volta para o quarto. Abri lentamente a porta e fitei o corpo adormecido dele na cama a poucos metros de mim. Sorri sentindo mais uma lágrima explorar minha face.
Sem perder tempo, comecei a recolher as minhas peças de roupa que cobriam o chão do cômodo e vesti-las. Contemplei mais uma vez o rosto sereno dele e acariciei seus cabelos. Desejei mais do que nunca me infiltrar em seus sonhos e adormecer em seus braços. Selei a testa dele com um beijo calmo e fui até a porta.
Covardia, fraqueza e sofrimento. Esses eram os três sentimentos que me dominaram quando eu deixei a casa dele a passos apressados, decidida a protegê-lo de mim. O céu estava tingido de dourado devido ao sol que surgia no horizonte daquela cidade pontilhada de altos prédios. O sofrimento por ter deixado para trás um pedaço de mim, a fraqueza por ter deixado a história ser iniciada e a covardia por não ser capaz de suportar a dor de uma despedida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário