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sábado, 10 de dezembro de 2011

Can you dance?


A tarde era morna quando Sue apareceu no estúdio como sempre costumara fazer nos ultimos dias. Afastou os cabelos negros dos olhos castanhos e agachou próxima a porta. A sala espelhada abrigava as garotas que, ainda sentadas no chão, amarravam as sapatilhas de ponta. Pela fresta que se abria, pôde ver a imagem dela sentada a um canto, os braços esticados e as feições doces de sempre. Mel aquecia-se para começar.
Pudera Sue, por meses, tomar coragem e finalmente deixar as palavras falarem por seu coração, mas algo lhe impedia. Talvez fosse a graciosidade de Mel que lhe tirava o fôlego. Ou talvez fosse apenas a falta de palavras para expressar o que sentia. Desejou escrever-lhe algo, como sempre fizera, mas de que adiantaria?
A música começou, doce e sinuousa. Sue apertou os olhos para ver melhor quando Mel começara a dançar. Como pudera se apaixonar por ela? Tão linda bailarina cheia e graciosidade. Parecia levitar enquanto dançava ao som de... Mozart, talvez? Sue não conhecia.
Contemplou-lhe o olhar triste que habitava suas feições. Sempre o encontrou ali. Constante. Surpreendera-se em ver que uma lágrima escorria pela face de Mel quando parara de dançar e rumava em direção a porta. Uma voz irritada gritou o seu nome, mas Mel ignorou. Abrira a porta e seu olhar recaiu sobre a figura agachada ali. Sue estendeu o corpo e tropeçou nos pés enquanto realizava tal ato. O rosto corou instantaneamente. Quisera dizer algo, entretanto, Mel não lhe dera tempo. Passou direto pela figura que acabara de encontrar e rumou em direção a saída do estúdio.
Sue assanhou os cabelos curtos enquanto as garotas da sala fitavam a porta. Desistira de entender se observavam-lhe ou se esperavam a volta de Mel. Assim, tomou o mesmo caminho que a bailarina fugitiva. Esperava encontrá-la na saída, mas com um suspiro decepcionado, desceu as ladeiras da cidade sem vê-la. Desejou estar com Mel naquele momento, mesmo que fosse para deixá-la chorar em seu ombro e nada falar.



"Escrito apenas pelo cansaço de repetir as mesmas palvras e de sentir as mesmas dores com intensidades similares. Querer mudar é errado?"

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