Enroscado na cama, estava o corpo magro de Peggy. As paredes manchadas abrigavam o mofo de séculos sem cuidado. A TV chiava tristemente e os lençóis encardidos cheiravam a naftalina. Satisfez-se com a aparência do lugar; combinava com o interior de seu coração, necrosado pelos anos de dor contínua.
Já não recordava como havia chegado ali. Preferiu manter-se longe, numa distância segura do mundo; envolta do irreal que lhe abrigava. Os dias já não eram mais contados, as horas corriam as pressas sem Peggy se dar conta. Não havia relógios no quarto. O tic tac assombroso das engrenagens do tempo não lhe atormentava. Apenas o barulho do silêncio e uma única voz que ecoava em sua cabeça confusa:
- Você está sozinha.
Desistira de decodificar de onde viera tal voz, que pronunciava tal venenosa afirmação com tanta clareza. Não estaria ela sozinha por ter optado estar? Manter-se afastada dos olhares de pena e das palavras vazias das pessoas não lhe trouxera a calmaria de sua própria solidão?
As noites em claro lhe contemplaram com olheiras. Os cachos desgrenhados já não eram tão bonitos. Não lembrava qual fora a ultima vez que ingerira comida. Alimentara-se nos últimos meses de nicotina e doses alarmantes de álcool. As seringas espalhadas pelo chão relatavam que Peggy drogara-se minutos antes. Questionava-se porque ainda não morrera.
Pouco se permitia sorrir e chorar havia se tornado momentos de pura raridade. Peggy perdeu-se tentando se encontrar. E na tentativa se encontrar, deixou esvair o que construiu para ser. Para si. Assim, conformou-se. Estagnou-se a permanecer sem identidade, rogando para que um dia, tudo viesse a mudar.
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