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sábado, 17 de dezembro de 2011

De: Bruna Para: Bruna



Querida Bruna,

Eu sei, é cansativo ter de contar as horas, os dias, os meses e se perguntar o porque de ainda estar viva. Mais cansativo ainda é perder minutos, segundos, milésimos de segundos questionando quem é você ou tentando encontrar quem você é. Durante muito tempo, as palavras foram a força vital que me levou a seguir em frente. Com elas, tentei traduzir o que se passava em meu intimo, mas disso eu cansei também.

Confesso que posso comentar dizendo que tenho o péssimo habito de guardar coisas do passado. Cartas, cartões, bilhetes, camisas e o que mais você imaginar. Quando era criança, com toda a inocência daqueles que ainda são capazes de contar a idade nos dedos, pensava que no futuro ia me contentar em relembrar fatos e pessoas que passaram pela minha vida. Hoje, eu me vejo querendo queimar tudo que remete a lembranças na qual desejo esquecer. Talvez, possa eu dizer, deseje aniquilar todo o meu passado só para não ter que contemplar o que me tornei.

Nunca fui de ter muitos amigos. Nunca fui a primeira a ser notada, a ultima a dar a palavra nem a inesquecivel na vida de ninguém. No fundo, acho que sempre fui aprisionada em mim mesma e gostava de manter-me ali. Até hoje, conservo uma caracteristica que não quero perder. Aquela que me conserva a uma distância segura do mundo ao meu redor. Odeio quem ultrapassa a linha que separa meus sentimentos, ou dos que conseguem decifrar o que se passa em meu intimo. Quando isso acontece, eu fujo.

Muitas pessoas costumam confundir sensibilidade com romantismo. Sim, sou muito sensível. Até mais do que eu gostaria ser (Só para eu não precisar comentar que odeio ser sensível!), mas estou longe de ser romântica. Não consigo dizer 'Eu te amo' para quem realmente amo. Não sou atenciosa - mesmo morrendo de saudades, dificilmente irei ligar - mas quase sempre estou disponível para conversar, sobre qualquer assunto a qualquer hora do dia (ou da noite!).

Uma vez me perguntaram que cor eu seria. Respondi que seria roxo. Em seguida, me perguntaram que cor eu era naquele exato momento. Sem dúvidas, sou cinza. Uma cor totalmente indecisa. Ela não é misteriosa como o preto, muito menos iluminada como branco. Sou cinza como fumaça de incêndio. Como nuvem de chuva. Sou cinza como a indecisão. Como a tristeza.

Esqueci de comentar. Pra falar a verdade, essa é uma das coisas que eu odeio comentar. Já tenho um repertório de caracteristicas dadas pelos alheios ao que se passa em mim. Dramática, Insegura, Fraca (esse é o mais odiado!). Como não gosto de debater sobre isso (na verdade, não gosto de debater sobre nada), deixo as nomeiações e os predicados dados por aqueles que não entendem esquecidos em meu intimo. Se eu gosto de ouvir essas coisas? Lógico que não! Você gostaria? Acabei aprendendo com isso que certas coisas não devem ser debatidas, escritas, narradas ou contadas. Fiz do silêncio a minha força e deixei toda a angústia/solidão/dor que me possui em completo anonimato, mas você pode encontrá-la tatuada em minha pele ou emanando do meu olhar.

Meus ultimos sonhos foram recheados de tormenta. Acho que sempre foi assim, mas só agora comecei a me dar conta disso. Toda noite, ao fechar os olhos, sou possuída por visões tristes, fugas e medo. E aquela única presença que insiste em permanecer ao redor. Tento me convencer até hoje que a melhor coisa que me aconteceu foi a ausência repentina dela. Desejo apenas parar de ser assombrada pelas lembranças que ela me deixou. Acenei e deixei-a partir sabendo que o nó atado em minha garganta demoraria a afrouxar.

Lembra daquele cansaço que falei no início? Pois bem, estou cansada. Cansada de olhar para meu próprio reflexo e não saber direito para quem estou olhando. Cansada de ter meu coração pisoteado ou fazer da minha vida uma canção de Fresno. Mudar seria um erro? Ultimamente, tenho achado que não. Desejo então mudar. Desjo me encontrar. Desejo que você também se encontre. Talvez, se você se encontrar, o mesmo aconteça comigo.

Com carinho, Bruna.

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