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domingo, 11 de dezembro de 2011


O despontar dos raios solares acordou-a do sono que durara apenas algumas horas. A brisa fria adentrava pela janela que ela esquecera de fechar antes de dormir. Sobre o peito magro, jazia o livro que a pusera pra dormir. Desvanecia-se a garota em suas páginas empoeiradas em busca da companhia de amigos invisíveis que fazia em cada capítulo lido. Em seus sonhos, os encontravam e deleitavam-se em longas conversas como se fossem amigos de longas datas.

Levantou-se contra a própria vontade e fitou suas feições no espelho gasto pelos longos anos de existência. As olheiras habitavam sua face e a palidez piorara depois de dias com a falta de fome. O olhar cinzento, olhos de névoa, eram tão vagos quanto os pensamentos que lhe habitavam. O silêncio da casa gritava em seus ouvidos e o quarto cheirava a mais pura solidão daqueles que preferem isolar-se do mundo.

A porta do quarto rangeu ao ser aberta e os pés descalços dela levaram-na em direção ao salão de entrada de sua morada gigantesca. O lustre de cristal deixava a casa mais fúnebre do que já aparentava ser. Contemplou ela todos os retratos de antigos parentes que já deixaram o mundo, mas que conservavam um pedaço de suas almas nas pinturas penduradas na parede de pedra. De certa maneira, eles lhe faziam companhia quando a sua já não era mais bem vinda.

Seus olhos captaram a brumas da madrugada pelas grandes janelas do salão e ao abrir a grande porta de carvalho que havia na entrada, sentiu aquela névoa acariciar lhe o corpo. Distinguiu o cheiro de pinho que vinha da floresta próxima e foi atingida pelo sopro de angústia que perpassou em seu intimo. Ainda lhe restava esperança no peito, mas a certeza já era suficientemente grande para que ela se convencesse que perderia a vida ali, imersa na solidez da ausência de alguém para compartilhar sua tristeza.

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